segunda-feira, 21 de maio de 2012

Energia - segunda parte

A Visão Chinesa

Na China Ch’i ou Qi é frequentemente traduzido como ar ou respiração, por exemplo, o termo chinês que significa respiração é tiānqì, ou a respiração do céu.
Ch’i é a essência ou substância responsável por tudo que existe no universo. Ele permeia tudo e compreende tudo. Ch’i é o alento, a força vital e nutridora que está no centro do crescimento e desenvolvimento do Universo, da Terra e da humanidade. Não existe um termo que possa traduzir essa palavra nas línguas ocidentais de uma forma que não seja vinculada a conceitos espiritualistas.
Nas palavras de Chuang Tsé quando o Ch’i se condensa, sua visibilidade torna-se evidente de modo que existem as formas. Quando se dispersa, sua visibilidade não é mais evidente e não há mais formas. O Grande Vácuo (Wu Chi) não pode consistir senão em Ch’i; este Ch’i não pode condensar-se senão para formar todas as coisas; e essas coisas não podem senão dispersar-se de modo a formar o Grande Vácuo.
Há milhares de anos, os taoístas chineses formularam a teoria de um poder eterno que move o universo e deram a esse poder supremo o nome de Ch’i. Segundo a legendária teoria do Yin Yang, o Ch’i exerce o seu poder ininterruptamente, transitando de maneira equilibrada entre o poder positivo (construtivo) e o negativo (destrutivo). O Ch’i se expressa sempre buscando o equilíbrio e a harmonia entre os opostos (quente e frio, positivo e negativo, bem e mal, etc). Não há de fato uma separação, mas sim uma constante busca pelo equilíbrio.
Para a medicina tradicional chinesa o equilíbrio entre o Yin e Yang é mantido por intermédio de um fluxo contínuo de Ch’i, ou energia vital, que corre ao longo de um sistema de meridianos que contém os pontos utilizados na acupuntura. Sempre que o fluxo entre Yin e Yang for bloqueado, o corpo adoece; a doença pode ser curada fixando agulhas nos pontos de acupuntura para estimular e restaurar o fluxo de Ch’i.
Originalmente, Ch’i era aquilo que diferenciava as coisas com vida das coisas sem vida.
O processo da vida humana baseia-se na interação das forças Yin e Yang. Nossa vida cresce, modifica-se e segue um ciclo natural que termina na morte. Os antigos chineses explicavam esse ciclo como um processo de crescimento e diminuição do Ch’i. É o Ch’i que determina as condições mentais e físicas do ser humano. O modo pelo qual o Ch’i se expressa é o que habitualmente se chama de natureza das coisas.
Com o desenvolvimento dessa filosofia, o conceito de Ch’i foi ampliando, cada vez mais, sua gama de significados e aplicações. Desta forma desenvolveu-se o trio Jing, Ch’i, Shen: Essência, substância, e energia espiritual, ou de outro modo, o termo Três Preciosidades (san bao - 三寶) que se refere aos três aspectos considerados pelo Taoísmo como fundamentais para a existência do corpo humano. Estes conceitos são referências básicas para a compreensão da medicina tradicional chinesa, da meditação Tao Yin, das práticas de Chi Kung e das artes marciais chinesas internas.
As Três preciosidades são:
  • Jing (Essência) É um termo chinês geralmente traduzido como essência, ou seja, a natureza íntima das coisas; aquilo que faz que uma coisa seja o que é, ou que lhe dá a aparência dominante; aquilo que constitui a natureza de um objeto. O homem nasce com uma certa quantidade de energia vital, chamada Jing. Essa essência é necessária à existência do homem, mas ela é apenas uma parte da essência vital. O poder interno gerado pelo trabalho com o Ch’i é chamado atualmente de nei Jing. O Jing manefesta-se sob ação do Shen.
  • Ch’i(Energia Vital) A palavra chinesa Ch’i significa literalmente ar, poder, movimento, energia ou vida. Segundo a teoria do T’ai Chi, o significado correto de Ch’i é energia intrínseca, energia interna ou energia original, eterna e suprema, ou ainda força vital, ou essência vital da pessoa, que também está presente em animais, plantas, e todos os seres vivos.
  • Shen (Espírito) É uma palavra chinesa muitas vezes traduzida como espírito ou alma. Pode-se ainda encontrar como designação de mente ou consciência. É uma forma de energia muito mais elevada do que o Ch’i e tem, para aquele que a conhece, características muito diferentes. O Shen vitaliza o corpo e a consciência e fornece a força da personalidade. A concepção de Shen como espírito implica em uma existência material que é diferente da idéia ocidental, assim Shen é uma parte integral do corpo e não algo separado dele. É o aspecto mais universal do homem. Atua como gerenciador da vida sendo o elemento fundamental de todas as funções e estruturas e suporte das manifestações psíquicas, mentais e emocionais do homem.
Segundo a visão taoísta, estes três elementos integram o corpo físico, material, visível e o corpo energético, imaterial, invisível, sendo interligados, podem ser cultivados de modo a se fortalecerem mutuamente através das práticas corporais e de meditação associadas à medicina tradicional chinesa.
Assim, pode-se dizer que o corpo físico (Jing) contém energia (Ch’i) e que essa energia contém o espírito (Shen), que é sem forma e intangível. Neste caso o Ch’i é a ponte entre matéria e espírito.
Outro conceito é que o Ch’i seria o elemento básico do qual todas as coisas são feitas. As diferenças não seriam que algumas coisas tinham Ch’i e outras não, mas sim um princípio que determinava como o Ch’i estava organizado e funcionava.
Na prática marcial, o Ch’i manifesta-se na forma de Jing, sendo projetado diretamente contra o oponente, não sendo possível sentir o Ch’i da outra pessoa, mas só o Jing dela; mas somos capazes de sentir nosso Ch’i, e não o nosso Jing. Mesmo após muitos anos de treino, pode-se ter uma quantidade incrível de Ch’i armazenado e ainda assim ser incapaz de tornar esse Ch’i em Nei Jing, o poder interno.
Shen se manifestaria através de Jing e Ch’i, sendo o primeiro a matéria-prima; o segundo, o movimento, o agente de transmissão e de transformação; é a morada central e criadora que engloba e transborda os dois primeiros.
Além disso existe um outro termo chinês, Li (), que é a força física que resulta do movimento do corpo (força física ou muscular). Li exige um movimento físico direto, ao passo que Jing resulta apenas de um movimento indireto. Enquanto Ch’i é controlado pela mente, Li é desencadeado pelo mecanismo físico.